Cacoal RO - Em Rondônia, estado onde aproximadamente 70% do eleitorado se identifica com o bolsonarismo, a decisão nacional do PSD de barrar a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de Janeiro criou um terremoto político de magnitude eleitoral imprevisível. A bancada do partido no estado, liderada pelo presidente estadual da legenda, Expedito Júnior pré candidato a deputado federal e pelo prefeito Furia pré-candidato ao governo, enfrentarão o colossal desafio de justificar perante sua base um alinhamento visto por muitos como uma traição.
O cenário é particularmente delicado. Rondônia não apenas votou massivamente Jair Bolsonaro em 2022, como abriga uma das bases mais fervorosas do país. Para eleitores que viram nos episódios de 8 de Janeiro um legítimo movimento de protesto, o posicionamento do PSD soa como uma declaração de guerra. Nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, a reação foi imediata: campanhas de boicote contra os candidatos do partido começaram a ganhar força horas após a notícia se espalhar.
O Cálculo Político que Pode Sair Pela Culatra
A aposta do PSD nacional era clara: posicionar-se como um partido institucionalista, defendendo o Estado Democrático de Direito para angariar apoio do eleitorado de centro. Em muitos estados, a jogada poderia ser vantajosa. Em Rondônia, é um tiro no pé.
"É um erro estratégico de cálculo monumental", dispara o cientista político Ricardo Ferreira, observador da política rondoniense. "Furia construiu sua imagem como um gestor pragmático, mas sempre navegando nas águas do bolsonarismo. Expedito Júnior é ainda mais alinhado. Agora, eles estão com a corda no pescoço. Ou rompem com a cúpula nacional e arriscam a estrutura do partido, ou abraçam a decisão e alienam 70% do eleitorado. É uma escolha entre o afogamento e o enforcamento."
Estratégias de Sobrevivência em Campo Inimigo
Fontes próximas aos dois candidatos revelam que a estratégia imediata é o silêncio calculado. Evitar ao máximo comentar o tema e redirecionar qualquer pergunta para assuntos estaduais e suas agendas locais.
"Eles vão tentar enterrar o assunto. Vão falar de estrada, de hospital, de escola, de tudo menos disso", confessa um assessor que preferiu não se identificar. "A esperança é que, até 2026, o eleitorado tenha uma memória curta e que outras pautas dominem o debate."
A Oposição Cheira Sangue
Enquanto o PSD se entrincheira, a oposição cheira sangue na água. Partidos como o PL e o Republicanos, profundamente enraizados no bolsonarismo local, já mobilizam suas máquinas para transformar o voto contra a anistia no epicentro da campanha eleitoral.
"Aqui em Rondônia, o PSD escolheu ficar do lado de Brasília e não do nosso povo. Quem vota contra o povo, o povo vota contra", declarou publicamente um dos coordenadores estaduais do PL, em claro sinal de que o ataque será frontal sem tréguas.
O pleito de 2026 em Rondônia se transformou em um experimento político crucial. Ele testará se a força de uma máquina partidária e o foco em gestão são capazes de sobreviver a um tsunami ideológico. Para Furia e Expedito Júnior, a missão é quase impossível: navegar em águas turbulentas onde sete em cada dez eleitores já os veem, agora, como inimigos. O preço por um voto em Brasília pode ser a própria eleição
Fonte: Redação