
A Morte da Esposa e Enteado de Grande Otelo
CACOAL RO - O ano era 1949, e a vida do aclamado ator brasileiro Grande Otelo (Sebastião Bernardes de Souza Prata) foi atingida por uma tragédia familiar que ecoou nos jornais da época: sua esposa, Lúcia Maria Pinheiro, tirou a própria vida e a de seu filho, Elmar, de apenas 6 anos.
O texto da época, citado na biografia "Grande Otelo - Uma Biografia" de Sérgio Cabral, revela que Lúcia Maria, casada com o cantor Blecaute e madrasta do garoto, teria deixado um bilhete explicando o ato como um desespero causado pelo sentimento de aprisionamento: "Otelo vive me amofinando por tudo. Não posso ir à praia, não posso visitar uma amiga, não posso sair. Quero morrer e vou levar meu filho."
A foto perturbadora da revista "O Cruzeiro", edição de 10.12.1949, mostra Grande Otelo e Blecaute velando os corpos, uma imagem de dor intensa e privada, agora tornada pública.
O Triunfo da Arte sobre a Dor

O que torna esse evento um capítulo icônico e doloroso da história do cinema brasileiro é o ato de puro profissionalismo de Grande Otelo. Segundo o relato de Sérgio Cabral, o ator saiu do enterro e foi diretamente para o set de filmagem para cumprir seu compromisso.
A cena a ser gravada era a mais famosa de sua carreira até então: uma paródia hilária de Romeu e Julieta, ao lado de Oscarito, no filme "Carnaval no Fogo", dirigido por Watson Macedo.
O diretor notou a luta interna do ator. Macedo relatou que Otelo "caía em prantos nos intervalos das filmagens", desabando sob o peso do luto. No entanto, ao ouvir o "ação", o gênio da comédia "entrava em cena sem a menor marca da tragédia no rosto."
Este contraste brutal entre o sofrimento real e a alegria forçada em cena se tornou uma lenda: o próprio Otelo só conseguiu assistir àquela cena, uma das mais alegres e icônicas de sua trajetória, 25 anos depois do ocorrido.
Reflexões Atuais: O Preço da Fama e do Casamento
Décadas depois, o debate sobre as circunstâncias que levaram Lúcia Maria ao desespero ainda gera comentários e reflexões nas redes sociais, como mostram as reações ao trecho da biografia. Muitos apontam para a dificuldade da mulher na sociedade da época, impossibilitada de trabalhar ou alugar um imóvel sem a assinatura do marido, vendo-se em uma "prisão em vida".
O episódio lança uma luz sombria sobre os sacrifícios exigidos pela arte e o drama por vezes oculto por trás dos holofotes. Grande Otelo, ao encarnar a alegria no seu momento de maior dor, demonstrou uma resiliência e um compromisso com o público que definiram sua grandeza, mas também ilustraram o alto preço pago na separação entre o artista e o homem.
Fonte: Site eletrônico Oliberalderondonia